
Páginas: 96
Ano: 2015
Gênero: Literatura Estrangeira / Terror
*Livro recebido em parceria com a Editora
Sinopse: Em 1589, o padre e demonologista Peter Binsfeld fez a ligação de cada um dos pecados capitais a um demônio, supostamente responsável por invocar o mal nas pessoas. É a partir daí que Raphael Montes cria sete histórias situadas em um vilarejo isolado, apresentando a lenta degradação dos moradores do lugar, e pouco a pouco o próprio vilarejo vai sendo dizimado, maculado pela neve e pela fome. As histórias podem ser lidas em qualquer ordem, sem prejuízo de sua compreensão, mas se relacionam de maneira complexa, de modo que ao término da leitura as narrativas convergem para uma única e surpreendente conclusão.
"O caráter do homem é o seu demônio."Heráclito
O Vilarejo é uma dessas histórias que mexe com a
cabeça do leitor. Fiquei me sentindo inquieta e completamente perdida em
pensamentos e intrigada com os contos narrados e os personagens tão humanos e
capazes de atos de atrocidade sem medida em prol de seus desejos, loucuras,
malícias.. Até mesmo o personagem com ar mais singelo e bondoso te surpreende
com suas atitudes!
Raphael Montes começa a história com um prefácio
onde nos informa que ele é apenas o tradutor de contos que chegaram de forma
inusitada até ele (através de um amigo dono de um sebo no RJ); contos esses
escritos em cimério, uma língua já extinta; o conteúdo dos cadernos se mostrou
tão assustador em suas ilustrações e na caligrafia, que isso despertou
interesse no autor. Os cadernos pertenceram a uma senhora já falecida (Elfrida
Pimminstoffe), e foi doado ao sebo pela bisneta. A parte interior dos cadernos
onde continham os sete contos tinha uma assinatura: "Peter Binsfeld";
um padre, teólogo e demonologista que viveu em Trier na Alemanha, no século
XVI. Nesse clima damos início aos contos supostamente traduzidos por Raphael
Montes, onde conheceremos em cada um deles a ação dos Sete Reis do Inferno, que
são responsáveis pela invocação dos pecados capitais; são eles: Asmodeus
(luxúria), Belzebu (gula), Mammon (ganância), Belphegor (preguiça), Satan
(ira), Leviathan (inveja) e Lúcifer (soberba).
O PRIMEIRO CONTO: BELZEBU - BANQUETE PARA
ANATOLE - O Vilarejo está sendo arrastado para a morte pelo frio e pela
fome. Com tudo ao redor congelado, os suprimentos não chegavam e todo o
Vilarejo ficou à própria sorte. O personagem central é Felika uma mãe
desesperada para alimentar seus três filhos enquanto seu marido, Anatole, saiu
a mais de cinquenta dias para conseguir comida. Porém as coisas não são como
parecem e logo levamos um baque, pois a Senhora Felika, mãe zelosa e corajosa
comete atos terríveis que a levarão a completa loucura. Belzebu é o Rei
do Inferno responsável pela Gula.
"- Preciso falar com você - repete.- Coisas estranhas estão acontecendo.A fome desproveu Felika de qualquer curiosidade sobre a vida alheia. Há tempos não conversa com ninguém do vilarejo e pretende continuar assim até que Anatole volte...É impossível entrar ou sair do vilarejo ser ser morto pelo frio. Por favor, preciso que me ajude. Coisas estranhas estão acontecendo.É a segunda vez que a sra. Helga diz aquilo. O que ela pretende?"
O SEGUNDO CONTO: LEVIATHAN - AS IRMÃS VÁLIA,
VELMA E VONDA - Nesse conto conhecemos uma família cujo pai foi morto em
batalha na guerra; a mãe ainda não está completamente recuperada de sua perda e
com isso Vália, a irmã mais velha, se dedica as suas irmãs de treze anos
(gêmeas) Velma e Vonda. Vália tem um namorado invejável, Krieger, que possui um
futuro promissor - As três possuem uma rotina de passeio, e vão para um
descampado.. Enquanto Vália namora Krieger e fica de olho nas meninas que se
reúnem com uma amiga Jekaterina.. As três adolescentes escrevem histórias;
Velma começa; Vonda conta o meio e Jekaterina finaliza. Elas usam os moradores
do Vilarejo como personagens e mudam a realidade. Logo aí percebemos que uma
das irmãs possui inveja das outras e isso a levará a querer construir uma
história em que Krieger seria o protagonista; Vália uma solteirona e as gêmeas
participariam de um triângulo amoroso com Krieger. Porém uma das irmãs (Vonda)
a que possui uma marca vermelha de nascença no rosto e é a menos bela de todas,
torna realidade seu conto cometendo atos inimagináveis sem remorso algum em
prol de pura inveja. Leviathan é o Rei do Inferno da Inveja.
O TERCEIRO CONTO: LÚCIFER - O NEGRO CAOLHO - Um
forasteiro chega à cidade; pele negra, dentes sujos de sangue, caolho e
esfarrapado; não fala a língua nativa do Vilarejo e logo de cara Ivan, o
ferreiro se dispõe a castigá-lo e desferir nele golpes que logo seriam seguidos
de uma decapitação se não fosse pela Sra. Helga, esposa do capitão Dimitri; uma
mulher aparentemente dócil que sentiu compaixão pelo negro e devido ao seu
status de esposa do capitão, levou o negro consigo (sem manifestos) e o abrigou
dando-lhe comida, e ensinando-lhe a servi-la como ama, sem pagamento algum. A Sra.
Helga possui um menino pequeno e se sentia muito cansada com as ausências de
seu marido, com isso a ajuda do negro, que mais tarde entendeu que se chamava
Mobuto era mais que bem vinda! Mobuto aos poucos foi aprendendo a falar a
língua da Sra. Helga e contou-lhe que seguiu o rastro de suas duas filhas
raptadas por um estrangeiro. Sua esposa foi morta na guerra e só o que Mobuto
deseja é achar suas pequenas. No começo tudo foi tranquilo e Mobuto mostrou-se
ávido por aprender tudo que a ama lhe ensinava, mas logo ele se cansou e
mostrou-se desanimado a seguir as ordens com perfeição. Estava aos poucos
percebendo que jamais sairia daquele lugar e jamais acharia suas filhas; após a
visita de um viajante a fim de vender um cão para a Sra. Helga, ela começou a
"despertar" para a "ingratidão" e "má vontade" de
Mobuto, e começou a tratar-lhe muito mal e cometer atos muito cruéis com
ele.. O final desse conto.. É sinistro e fiquei pensando.. Como o ser humano
aparentemente mais dócil e tranquilo pode se deixar levar por insinuações e
pela maldade.. Assim como outro ser humano pacífico pode ser testado até seu
limite e transformar-se no monstro que apontaram inicialmente! Lúcifer é
o Rei do Inferno da Soberba.
O QUARTO CONTO - ASMODEUS - A DOCE JEKATERINA
- Após o encontro com as gêmeas no descampado próximo aos trilhos,
Jekaterina, uma jovem que perdeu a mãe e é criada por seu pai é seguida e
estuprada por um vizinho, Mikhail; para calar a jovem de treze anos ele ameaça
matar seu pai.. O ato sexual acontece inúmeras vezes depois disso, e parece que
Jekaterina "se acostumou", porém quando seu pai morre e ela vai morar
com uma tia. A "relação" entre ela e Mikhail termina. Anos depois; já
crescida, Jekaterina retorna ao lar de Mikhail dizendo que quer sexo; Ela foi à
única mulher que Mikhail teve sem pagar; ele é obeso mórbido e mal sai de casa,
vendo a doce Jekaterina em sua porta não exita e se vê em êxtase. Porém
Jekaterina tem uma surpresa para ele, ela parece que se tornou prostituta e faz
sexo meio que selvagem, cuspindo, mordendo, e lambendo.. Mais tarde Mikhail
percebe o que aquela visita significou. Asmodeus é o Rei do Inferno da
Luxúria.
O QUINTO CONTO - BELPHEGOR - A VERDADEIRA
HISTÓRIA DE IVAN, O FERREIRO - Ivan é o mesmo personagem que antes estava
pronto para decapitar o negro forasteiro. Ele é um homem reconhecido por sua
força, bravura e produtividade na fundição do ferro e do aço, legado do seu
pai.. Mas que poucos sabem o quanto ele detesta; o quanto é preguiçoso e o que
ele esconde. Ele comprou duas negras de um estrangeiro e tornou-as suas
escravas. As mantém fazendo o trabalho duro no porão de sua casa. Jamais se
interessou em saber o nome delas e sua história; apelidou cada uma de 01 e 02.
Ele as usa para manter sua fama de ferreiro e produzir em massa. Ivan, assim
como muitos no Vilarejo possui qualidades sim, mas também uma preguiça fora do
comum e odeia seu trabalho.. Escraviza meninas negras e inocentes. E em meio ao
Vilarejo dizimado pela fome e miséria tem a ideia de obrigar uma delas a partir
um pedaço de sua carne para que ele possa sentir novamente o sabor e saciar sua
fome. Nesse conto temos de volta Mobuto (o negro caolho que viveu na casa da
Sra.Helga e depois sumiu). Aqui mais uma vez vemos que quando os limites do ser
humano é testado ele é capaz do maior ato de atrocidade, vemos que as
aparências enganam e que nem sempre as coisas são o que parecem ser!
O SEXTO CONTO - MAMMON - O PORQUINHO DE
PORCELANA DA SRA. BRANKA - Latasha nasceu órfã e sua avó Branka se viu como
sua única família e tomou para si os cuidados da única neta. Branka é uma
senhora muito trabalhadora e tem uma condição razoável para uma senhora da sua
idade; não tem muito, mas também não lhe faltam as coisas. Mas mesmo assim vive
preocupada com o dinheiro e após a visita do seu contador é incitada a guardar
cada moeda que conquistar em um porquinho; a tirar sua neta da escola, afinal
estudos não levam ninguém a nada segundo seu contador.. Que diz ter duas
filhas, uma trabalha e a outra estuda. O homem lhe presenteia com consultoria
grátis e um porquinho no qual passa a guardar cada centavo recebido. Sua neta
antes, bonita, saudável e feliz, agora é raquítica e amarga. Em dado momento em
que já não aguenta mais a vida que vem levando tem a ideia de roubar as moedas
do porquinho sem que sua avó perceba. E nesse momento Branka chega e flagra
Latasha com o porquinho quebrado e todas as moedas desaparecidas.. Aí o amor
entre avó e neta a muito abalado, após a visita do contador que fez com que
Branka percebesse o quanto gasta com a neta acaba em um conflito inevitável,
onde Branka acaba ferida e dependendo dos cuidados daquela a quem sempre
cuidou.. Antes com amor e lhe dando todo o necessário e mais tarde lhe negando
até o que comer (o mais básico). O que acontecerá a seguir é apenas reflexo de
tudo que se passou antes! Parece que o ser humano, por mais dócil que seja,
pode tornar-se perverso, vingativo e mesquinho! Mammon é o Rei do Inferno
da Ganância.
O SÉTIMO E ÚLTIMO CONTO - SATAN - UM HOMEM DE
MUITOS NOMES - para fechar os contos com chave de ouro esse conto nos traz
Anatole, o esposo de Felika que saiu em busca de alimentos para sua família
lembram? Mesmo fora de sua casa a mais de cinquenta dias, Anatole não obteve
sucesso e está definhando, e desenganado, deseja retornar para sua família, nem
que seja para morrerem juntos, pois infelizmente mesmo ele tendo talento para
caça, não foi possível achar nada. E então surge um velho que o alimenta e o
põe de volta nos trilhos, oferecendo uma sacola recheada de provisões que serão
muito úteis à sua família. Ele retorna ao seu lar e se depara com a pior cena
que se possa imaginar. Ele sempre foi um pai agressivo, criando os filhos a
pulso de ferro, mas os amava e se arrepende, segundo pensa, após sua estada
longe de sua família. Ama Felika profundamente.. Mas quando retorna ao seu lar
e vê o que aconteceu com sua família perde a cabeça e se torna aquele homem
agressivo mais uma vez, porém seus atos não poderão ser perdoados ou esquecidos
por si mesmo, após perceber que o mesmo velho que lhe deu provisões visitou
Felika, e também esteve rodando várias casas do Vilarejo. E o final meus
caros.. Mesmo prevendo, não pude deixar de ficar completamente absorta em tudo
que eu li!
"Ao olhar para a sala, Anotole tropeça. Sente o corpo tontear e precisa se apoiar na poltrona para não cair no chão. Vomita a pouca comida que guarda no estômago. Olha para o rosto da mulher, as ela continua a sorrir."
Já fui grande fã de nacionais, sofri algumas
decepções ao longo dos anos de leitura e pouco a pouco fui lendo cada vez menos
nacionais. Mas hoje tive um enorme prazer de ler O Vilarejo e constatar que
sempre vale a pena continuar inovando e conhecendo novas escritas e autores
estrangeiros ou nacionais. Raphael Montes me surpreendeu muito com seus contos,
sua forma de conduzir a organização dos textos e a meu ver fechou com chave de
ouro tudo que eu li. Macabro, violento, cru no que diz respeito às ações
humanas quando testados aos seus limites e muito inquietante! Tornei-me fã de
mais um autor nacional! E preciso ler outras obras do autor!
O livro está lindo do começo ao fim, com
ilustrações incríveis, uma diagramação e capa perfeitas. Não há defeito para
por! A união entre o autor e Editora tornaram essa obra querida em minha
estante! Raphael Montes é digno do mestre King de quem sou fã de carteirinha!
Estou feliz que meu pedido para a Editora parceira Suma de Letras tenha me rendido uma surpresa que amei! Veio autografado.
Preste atenção à foto do meu Lev - e repassem
tudo que escrevi.. Essa na foto é Elfrida Pimminstoffe, a quem pertenciam os
cadernos de capa preta doados ao sebo que comentei lá no começo. Reparem bem
nela e repassem as histórias!
Raphael Montes - eu preciso falar com você! rs
Estou intrigada!
Além disso, tenho que falar que as ilustrações do
livro são lindas! Fantásticas!
Oi, Karini. Foi com este livro que pude conhecer um pouco mais sobre o autor Raphael Montes e apreciar as suas outras obras. O Vilarejo me conquistou, não por ser um livro extremamente elogiado, mas por ser do gênero de terror, estou devendo esta leitura, e por ser construído em contos e ilustrações. Além, da ligação entre o demonologista e o padre. O conto que mais me deu pavor foi o quinto.
ResponderExcluirLi o livro Dias Perfeitos do autor, e simplesmente me apaixonei, o que praticamente me obrigou a buscar novas leituras dele. Depois de ler O Vilarejo o talento do escritor só se confirmou: eu me senti assustada e ao mesmo tempo fascinada pelo livro. E o final foi de arrepiar de verdade! Como tu mesma destacou, as ilustrações são um ponto alto do livro, pois intensificam a atmosfera de horror que existe em toda a narrativa. É uma leitura mais do que recomendada!
ResponderExcluirNossa capricharam,o livro está muito bem feito com belas ilustrações mas confesso que fiquei com medo de ler,as histórias parecem ser bastante assustadoras eu não tenho costume de ler livros neste estilo mas quem sabe um dia eu fique mais corajosa e leia.
ResponderExcluirbjs
Achei todas as ilustrações muito foda! O Vilarejo ainda é duvida sobre minha mente, mais ainda vou esperar e pensar porque não quero me arrepender, mesmo não sendo aquela que lê muitos contos eu gostaria.
ResponderExcluirEstou interessado nesse livro desde que ele foi lançado! O que me chamou mais atenção no livro foi o fato de como o Raphael construiu as histórias, baseados nos pecados capitais. Ao ler um pouco sobre cada um, a minha vontade de querer lê-lo só aumentou. Além disso, eu adorei ver como é o livro por dentro. Amei a resenha!
ResponderExcluirCaramba! Que resenha mais completa e super fantástica. Adorei!
ResponderExcluirFiquei aqui me segurando de vontade de ler o livro. Saber que tem essa pegada sombria é algo que entusiasma mesmo. Já é mais um para minha coleção do autor. Que diagramação perfeita e que dedicatória show de bola.
Preciso ler!